Por que a Saúde Mental ainda é um tabu?

É comum as pessoas ficarem relutantes quando começam a perceber que estão com algum sofrimento na esfera da saúde mental. Se é difícil admitir esse sofrimento, procurar ajuda, é um desafio ainda maior.

Certa vez, uma amiga me ligou para se aconselhar e me contou que havia sido diagnosticada com crises de pânico. Ela tinha muitas dúvidas sobre o tratamento e se voltaria a se sentir bem como antes. Tirei todas as dúvidas dela e, ao final, ela ainda me perguntou: “mas então quer dizer que eu agora sou uma paciente da saúde mental?”. Foi aí que eu percebi que, para ela, aquilo era um tabu. E ela não está sozinha nesse grupo, pelo contrário.

A saúde mental ainda enfrenta algum grau de tabu em várias partes do mundo, mas a intensidade e as razões variam de acordo com contextos culturais, históricos e socioeconômicos. Em geral, o tabu existe porque questões de saúde mental são frequentemente mal compreendidas, associadas a preconceitos e rodeadas por falta de informação.
Precisamos falar sobre isso.


Por que saúde mental é um tabu?

1. Falta de informação:

Muitas pessoas não compreendem que condições como depressão, ansiedade, transtorno bipolar e esquizofrenia são problemas médicos legítimos, tratáveis como qualquer outro problema de saúde.

A ausência de campanhas educativas reforça mitos e leva a interpretações equivocadas, como associar problemas mentais à “fraqueza” ou “falta de força de vontade”.


2. Histórico de exclusão:

Até recentemente, pessoas com transtornos mentais eram marginalizadas em várias sociedades. No Brasil, manicômios eram locais de exclusão até a reforma psiquiátrica de 2001, perpetuando preconceitos.


3. Estigma social:

Há um medo de julgamento por parte da sociedade, que muitas vezes vê quem busca ajuda psicológica como “louco” ou “problemático”.

A ideia de que a saúde mental está relacionada ao caráter, e não à biologia, reforça a vergonha e a negação.


4. Pressão cultural:

Em muitas culturas, há uma expectativa de que as pessoas sejam resilientes e emocionalmente fortes. Demonstrar vulnerabilidade é visto como uma fraqueza.


O tabu na sociedade brasileira


1. Influência cultural:

A cultura brasileira valoriza a alegria e a extroversão, frequentemente marginalizando discussões sobre sofrimento emocional.

Problemas mentais são muitas vezes minimizados como “frescura” ou “drama”.


2. Religião e crenças populares:

Em muitos contextos, transtornos mentais são vistos como falta de fé ou problemas espirituais, levando as pessoas a buscar ajuda religiosa em vez de tratamento profissional. Na verdade, uma coisa não exclui a outra. Religiosidade é um fator de proteção para a saúde mental e pode coexistir com o tratamento.


3. Desigualdade social:

A desigualdade no Brasil dificulta o acesso aos serviços de saúde mental. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece apoio, mas a demanda supera a capacidade, deixando muitos sem atendimento adequado.

Para populações vulneráveis, problemas de saúde mental podem ser relegados a segundo plano, diante de preocupações mais basilares como emprego e moradia.


4. Reforma psiquiátrica recente:

O Brasil iniciou reformas importantes na saúde mental apenas no início dos anos 2000. Antes disso, os manicômios reforçavam o isolamento e o estigma. Mas, desde a reforma, inúmeros serviços substitutivos, com cuidado adequado e integrado à sociedade foram criados, como os CAPS, Centros de Convivência, Residências terapêuticas e atendimentos na rede básica de saúde.


5. Avanços recentes:

O “Setembro Amarelo” e a presença de influenciadores discutindo saúde mental nas redes sociais têm ajudado a desmistificar o tema, mas ainda há resistência em muitas áreas. Algumas celebridades exercem um importante papel social ao revelarem sua trajetória de cuidados com a saúde psíquica. Isso reforça sua própria condição humana e influencia positivamente seus admiradores a também buscarem cuidados.


Comparação com outras culturas


1. Países desenvolvidos (Estados Unidos, Europa Ocidental):

Há maior conscientização em países como Canadá, Estados Unidos, e Reino Unido, onde campanhas públicas e figuras influentes promovem o diálogo sobre saúde mental.

No entanto, mesmo nessas nações, o estigma persiste, principalmente em comunidades conservadoras ou de baixa renda.


2. Japão e Coreia do Sul:

Nessas culturas, o tabu é muito forte devido à ênfase na honra e na reputação familiar. Buscar ajuda psicológica pode ser visto como “envergonhar” a família.

Taxas de suicídio são elevadas, mas iniciativas governamentais têm tentado reduzir o estigma.


3. África e comunidades indígenas:

Em muitas culturas africanas e indígenas, transtornos mentais são frequentemente vistos como problemas espirituais ou ligados à possessão.

Sistemas de apoio comunitário e práticas tradicionais podem servir como uma forma alternativa de suporte, embora não substituam e não excluam tratamentos médicos.


4. Países nórdicos:

Suécia, Noruega e Dinamarca são exemplos de países que tratam a saúde mental como prioridade, com serviços amplamente acessíveis e pouco estigma. Políticas de bem-estar social e conscientização reduziram consideravelmente os preconceitos.

Conclusão

Embora o tabu sobre saúde mental seja global, suas manifestações e causas variam de acordo com fatores culturais, econômicos e históricos. Para reduzir o estigma globalmente, é fundamental investir em educação, acessibilidade e promoção de um diálogo mais aberto sobre o tema, ou seja, precisamos falar mais e mais sobre isso.
A prevalência dos adoecimentos psíquicos está aumentando em nossa sociedade. O Brasil é o país mais ansioso do mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Então, se você está enfrentando dificuldades na esfera psíquica, saiba que você não é o único e que há muitas possibilidades de tratamento. Você não precisa carregar um peso.

Procure ajuda especializada!



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